https://www.fuxicogospel.com.br/Por Caio Rangel • Publicado em 13/05/2025

Dentro do próprio meio evangélico, cresce o debate sobre a coerência entre os valores cobrados e o discurso de simplicidade e serviço

Os shows gospel patrocinados por prefeituras têm se tornado cada vez mais frequentes em cidades do interior e capitais brasileiras.

No entanto, os valores pagos a cantores evangélicos por apresentações em eventos públicos têm levantado dúvidas e provocado debates tanto dentro quanto fora das igrejas.

Artistas renomados do meio gospel chegam a receber cachês que ultrapassam os R$ 200 mil por show, valor considerado alto até mesmo quando comparado com atrações do segmento secular. As contratações são, em sua maioria, feitas por meio de dispensa de licitação, o que tem motivado investigações de órgãos de controle e denúncias do Ministério Público em alguns estados.

Em levantamento feito com base em portais da transparência, diários oficiais e documentos públicos dos anos de 2024 e 2025, os números mostram um mercado aquecido e com valores equiparados — ou até superiores — aos de grandes nomes da música secular.

Confira alguns exemplos recentes de contratações por prefeituras:

Aline Barros – R$ 250 mil (Santa Maria da Boa Vista/PE)

Cassiane – R$ 220 mil (Caruaru/PE)

Maria Marçal – R$ 210 mil (Zé Doca/MA)

Bruna Karla – R$ 200 mil (Angicos/RN)

Thalles Roberto – R$ 200 mil (São Paulo/SP)

Anderson Freire – R$ 195 mil (Campo Verde/MT)

Samuel Mariano – R$ 170 mil (Divinópolis/MG)

Fernandinho – R$ 160 mil (Ourinhos/SP)

Jefferson e Suellen – R$ 140 mil (Cordeiro/RJ)

Damares – R$ 120 mil (Palmas/TO)

Midian Lima – R$ 120 mil (Palmas/TO)

Samuel Messias – R$ 120 mil (Cuiabá/MT)

Theo Rubia – R$ 80 mil (Alto Caparaó/MG)

Paulo Neto – R$ 60 mil (Pojuca/BA)

Mateus Brito – R$ 60 mil (Xaxim/SC)

Silvan Santos – R$ 32 mil (Angico/TO)

Willian Nascimento – R$ 15 mil (Mâncio Lima/AC)

Os dados revelam um mercado consolidado e valorizado. No entanto, a disparidade de valores entre os artistas e o fato de que muitas dessas contratações acontecem sem licitação, por meio de inexigibilidade, tem gerado questionamentos. Em alguns estados, inclusive, o Ministério Público já abriu investigações para apurar possíveis irregularidades no uso de verba pública.

Enquanto prefeituras justificam que os shows têm caráter cultural, movimentam o comércio local e atraem turistas, críticos argumentam que os altos valores comprometem o orçamento municipal, especialmente em cidades com carência de serviços básicos.

Dentro do próprio meio evangélico, cresce o debate sobre a coerência entre os valores cobrados e o discurso de simplicidade e serviço. Pastores e líderes alertam para o risco da mercantilização do ministério, e defendem o apoio a bandas locais e ministros que veem a música como ferramenta de evangelismo, e não como fonte de enriquecimento.

Mesmo assim, os nomes mais populares continuam sendo os mais procurados — e os mais caros. E enquanto a presença desses artistas lota praças públicas, a polêmica sobre o limite entre ministério e negócio segue ganhando força nas redes sociais, nas igrejas e agora, também, nos tribunais de contas.

Deixe seu Comentário